Alemanha Oriental: Social-Fascismo e Revisionismo
“A imprensa burguesa geralmente mantém um silêncio sobre a oposição Comunista aos estados revisionistas onde o socialismo foi substituído pelo capitalismo de Estado burocrático, este silêncio não é sem propósito: destina-se a obliterar o antagonismo entre o Marxismo-Leninismo e o revisionismo moderno e apresentar o colapso dos regimes burocráticos capitalistas de estado como a derrota do socialismo e do comunismo. Embora o revisionismo tenha ganhado uma ascendência mundial após o 20º Congresso do PCUS em 1956, é evidente que os Comunistas Marxistas-Leninistas lutaram contra isto a cada passo. Hoje é claro que em todo o mundo os revolucionários comunistas estão a ganhar terreno contra as sobrevivências do revisionismo moderno e que estão a afiar as suas armas para acertar as contas finais com o capitalismo e os seus servidores revisionistas.” — Rajesh Tyagi e Herbert Polifka, Novas Revelações sobre as Atividades e Destruição da Secção da RDA do Partido Comunista da Alemanha/Marxista-Leninista (KPD/ML)
Especialmente por estética, os revisionistas no Brasil e no mundo tem um apego especial pela Alemanha Oriental, defendendo o projeto que tornou-se um fantoche do social-imperialismo Soviético após 1956 com garras e dentes de qualquer crítica, o considerando um legítimo “país socialista”, apesar da adesão do regime às ideias e políticas de Khruschov, Brejnev e Gorbachev, que foram uma rejeição total do Marxismo-Leninismo e de todos os princípios mais básicos do Comunismo.
Os mesmos, juntos à reação, oportunisticamente ignoram a oposição dos verdadeiros comunistas, aqueles que defendiam o legado e a teoria de Joseph Stalin e Mao Tsé-Tung, na época, representados pelo Partido Comunista da Alemanha/Marxista-Leninista (KPD/ML). Ocultar a história deste movimento favorece os interesses da burguesia, como bem demonstrado na citação inicial que introduz o leitor à este artigo. Demonstrar a verdade é prejudicial para os oportunistas e os reacionários, afinal, quebra a narrativa do suposto “socialismo real” (usada para justificar o revisionismo e o social-imperialismo) e também das mentiras anti-comunistas usadas pela reação diante da Alemanha Oriental, que acusavam o país de ser “Estalinista”.
Isto se torna irônico quando observa-se o fato que as obras de Joseph Stalin eram estritamente proibidas na Alemanha Oriental, sem contar que todos os aspectos de sua teoria, sua imagem, seja em estátuas ou em quadros, foram removidos em massa da Alemanha com a “De-estalinização” imposta a todos os países do Bloco Soviético. Como parte da destruição do socialismo e das democracias populares, o Marxismo-Leninismo foi suprimido nesse país.
Em si, o KPD/ML na Alemanha Oriental era ilegal e foi fundada em 1976 com atuação contínua até 1982, onde foi liquidado pela Stasi (Serviço de Inteligência da Alemanha Oriental) sob comando de Honecker. Para escapar da perseguição social-fascista, o partido tinha pequenos grupos de 3 a 5 membros, que não tinham conexões públicas entre si. O partido realizava ações clandestinas, promovidas pelo seu jornal (que também era ilegal) Roter Morgen, mas também atuou na legalidade de forma secretiva dentro dos sindicatos.
O partido organizava leituras dos livros de Joseph Stalin, Mao Tsé-Tung e também de Enver Hoxha, com a Embaixada da República Popular Socialista da Albânia apoiando de forma ilegal o grupo, os distribuindo livros marxistas que eram censurados pelo regime revisionista. O partido também trabalhou junto a outras organizações anti-revisionistas, como o Partido Marxista-Leninista da Polônia, que tinham quadros que trabalhavam ocasionalmente na Polônia. Essa cooperação e distribuição do ilegal jornal “Bandeira Vermelha” polonês irritou o governador militar soviético da região de Magdeburg, que ordenou uma supressão de ambos os grupos.
Os estudos realizados pelo partido chegaram a conclusão que a Alemanha Oriental era uma semi-colônia do Imperialismo Soviético, sob um regime social-fascista, que se estabelecia por um capitalismo de estado¹, fantasiado de socialismo. A propaganda distraía dos problemas que as classes operárias atravessavam cada vez mais com as reformas liberalizantes que eram impostas, com o capital estrangeiro penetrando de forma cada vez mais exploradora todos os centros urbanos do país. Com isso, o partido começou a mobilizar e politizar as massas, espalhando seus próprios panfletos.
Isso irritou Honecker, que começou uma operação para destruir completamente o movimento. De todos os grupos de oposição na Alemanha Oriental, o KPD/ML foi o mais perseguido, com membros sendo presos por até oito anos pelas menores infrações possíveis e também foi um pedido pessoal de Honecker que as “interrogações” (leia-se: tortura) ocorressem de forma severa, para servir de “exemplo”. Aqueles que estavam sob suspeita de serem afiliados ao movimento, eram observados por semanas pela Stasi, até fazerem algo “suspeito” e assim seriam detidos.
Nos meios de comunicação da Alemanha Ocidental— imprensa, rádio e televisão — existia, até a criação da KPD/ML, apenas um tipo de oposição dentro da Alemanha Oriental: a oposição de empresários, escritores, cantores, compositores e cientistas conhecidos. Esta oposição representava apenas setores da pequena burguesia e da burguesia nacional, muitos deles tendo uma apreciação pelo ocidente e apenas interessados no ganho financeiro que teriam com a reunificação. Mas os meios de comunicação social mantiveram silêncio sobre a resistência dos Marxistas-Leninistas e Maoistas.
Como citado anteriormente, uma parte importante do grupo foi a distribuição de livros e estudos, que aconteciam muito devido a Progressive Jugend (Juventude Progressista), que em 1975 estabeleceu as bases para a construção do partido em Berlim Oriental e outras cidades. A juventude carregava fortes inspirações dos Panteras Negras, os quais também tiveram suas obras proibidas pelo regime revisionista. Deste jovens, se formaram diversas células, que inspiraram suas ações em como atuava o KPD durante a ditadura nazista.
Além dos jovens, que eram a maioria, alguns camaradas mais velhos e endurecidos pela batalha juntaram-se à Secção. Por exemplo, o camarada Heinz Reiche (‘Vovô’ Reiche), que passou 11 anos em prisões e campos de concentração nazistas, participou de atividades em Weisswasser (um pequeno município ao sul de Cottbus). Heinz Reiche já havia entrado em conflito com o SED na década de 1950. A voz dos comunistas foi distribuída na Alemanha Oriental, quer enfiando-a em caixas de correio, quer colocando-a em locais públicos (tais como cabines telefónicas, paragens de autocarro, estações ferroviárias, cinemas, hospitais) ou distribuindo-a diretamente nas fábricas.
Sobre os livros que eram distribuídos, esses livros não foram usados apenas para estudo, mas também foram enviados a pessoas conscientemente selecionadas. A célula de “Magdeburgo” foi pioneira neste campo. Por exemplo, distribuiu 200 exemplares de “Os Khrushchevistas”, 250 exemplares de “Imperialismo e a Revolução”, cerca de 60 exemplares de “Reflexões sobre a China” (volumes 1 e 2), milhares de panfletos sobre a luta contra os revisionistas modernos, etc. Além disso, importantes documentos em língua estrangeira foram enviados para diferentes estados revisionistas (como a Polónia, a Roménia, a União Soviética, Cuba, a Hungria, a Bulgária).
As atividades dos comunistas em todo o país não podiam ser mantidas escondidas da polícia secreta política. O próprio Erich Mielke [Ministro da Segurança do Estado] deu prioridade máxima ao caso (carta de Mielke, datada de 3 de março de 1976). Ele exigiu repetidamente que a vigilância da “Secção da RDA” fosse “intensificada ao máximo”. O objetivo não deveria ser apenas a dissolução da “Secção Oriental”, mas também a destruição do KPD no Ocidente. Mais abrangentes foram as considerações do Departamento XXII responsável pelo “contraterrorismo”: “minar essas forças hostis nos seus pontos de partida (Berlim Ocidental) através de medidas apropriadas, para colocá-las umas contra as outras e envolvê-las em confrontos mais acentuados com círculos da extrema direita, bem como com a estrutura de poder da Alemanha Ocidental”(«Plano para 1976 do Departamento XXII, datado de 30 de Janeiro de 1976»).
Em Berlim, o MfS (Stasi) fabricou uma célula para infiltrar totalmente no movimento. Serviu para identificar mais instrutores e mensageiros, bem como para espalhar informações falsas à liderança do Partido [KPD/ML]. Em Berlim Oriental, o MfS utilizou seis MIs, em Frankfurt [no Oder] e em Leipzig quatro MIs cada, em Karl-Marx-Stadt [hoje Chemnitz] três, em Dresden dois MIs e em Cottbus, Halle [em Saale] e Magdeburg um IM cada como membro do KPD/ML. Contra o KPD/ML na Alemanha Ocidental, estavam ativos mais três MIs do HVA II/6 (dois deles membros do KPD/ML e mais um contato), um MI do HVA (‘Ciência e Secção Técnica’) e um IM, um contato do Departamento XXII/3 ‘Resumo do Departamento XXII, datado de 24 de Outubro de 1983, relativo aos colaboradores não oficiais utilizados no âmbito da vigilância e investigação do ‘KPD’’).
No próprio Ocidente, o MfS identificou 22 instrutores, 33 mensageiros, 42 endereços falsos e 6 números de telefone falsos do KPD/ML. Após uma vigilância bem-sucedida, a StaSi usou vários métodos para destruir a Seção. Estas incluíam as chamadas medidas de desintegração. Por exemplo, através de medidas bem intencionadas de um IM, um membro da “célula Cottbus” (“Avô” Heinz) foi desacreditado junto da sede do Partido, o que levou à sua expulsão do Partido pela “liderança da Secção da RDA”.
As células que não podiam ser controladas pelo MfS foram destruídas pelo MfS, por exemplo, certificando-se de que um activista estava cada vez mais estressado no seu trabalho para impedi-lo de realizar extensas actividades organizacionais. Além disso, a própria StaSi despertou uma desconfiança contínua dentro da Secção, ao poupar os principais activistas de medidas ofensivas (tais como prisão ou recusa de entrada [no país]). Dessa forma, as pessoas envolvidas ficaram expostas à suspeita de serem informantes da polícia.
Com a ajuda dos MIs, foram criados nas células sentimentos de incerteza sobre questões ideológicas. Por exemplo, o IM Niehueser fez duros ataques contra o Partido do Trabalho da Albânia (PLA) ao fingir defender o Maoismo. As suas posições “maoístas”, no entanto, foram rejeitadas. Na expectativa de que as pessoas se demitissem do Partido, o estado social-fascista empreendeu uma campanha de difamação desenfreada. Chantagem e pressão foram usadas contra familiares. Cargos em universidades foram negados. A pensão das “vítimas do fascismo” foi utilizada para chantagem. Ao mesmo tempo, comunistas conhecidos foram colocados sob vigilância. Em Magdeburgo, por exemplo, os apartamentos dos camaradas do KPD, foram grampeados. Durante muitos anos, eles foram monitorados continuamente.
O MfS não conhecia limites. Todos os meios que levaram ao sucesso poderiam ser usados. As diretrizes eram os fundamentos do sistema de informantes. Cinicamente e cheio de desprezo pelos seres humanos, Mielke expôs as medidas de desintegração. A investigação do «objeto inimigo» ofereceu a possibilidade de mudar para uma linha mais dura e de desferir um duro golpe em Dezembro de 1980 e especialmente em Março de 1981: no total, oito membros e apoiantes da Secção da RDA foram presos e foram iniciados inquéritos judiciais por crimes previstos no artigo 106.º do Código Penal [da RDA] («agitação subversiva contra o Estado»); também foram iniciados inquéritos judiciais contra outras duas pessoas que não foram presas. [Informações do Departamento Principal IX/2 datadas de 5 de novembro de 1981.]
Diante dessa exposição, proporcionada para nós pelos companheiros do (KPD/ML), a única conclusão que deve ser tomada é que os revisionistas são inimigos do povo e do comunismo, e sempre irão visar sua destruição. Não existia “socialismo” na Alemanha Oriental e não existe socialismo hoje no mundo.
ABAIXO A QUALQUER TIPO DE OPORTUNISMO E REVISIONISMO!
HONRA E GLÓRIAS ETERNAS AOS MÁRTIRES QUE ERGUERAM-SE CONTRA O SOCIAL-FASCISMO!
¹ Deve ser reconhecido que a Alemanha Oriental teve grandes conquistas, algo que os próprios membros do partido falavam sobre. Estas conquistas, na área da educação, direitos LGBTQIA+, igualdade de gênero, moradia gratuita, etc, foram positivas, porém, não representavam a existência do socialismo e não anulavam o capitalismo burocrático no país. Afinal, o modo e as relações de produção eram capitalistas, e também, vários países com o capitalismo de “bem estar social” tem medidas iguais ou parecidas à essas.
Fontes:
https://espressostalinist.com/2011/10/07/the-kpd-anti-revisionist-struggle-in-east-germany-during-the-period-1976-1982/
https://revolutionarydemocracy.org/rdv5n1/gdrkpd.htm
https://www.marxists.org/history/erol/poland/poland-intro.pdf