Um Futebol de um Novo Tipo

Por Thiago “Bahia” — G.E.V.P.

Thiago
6 min readDec 31, 2023

Um programa de 7 pontos para o futebol na nova sociedade - parte integral da cultura brasileira.

Jogadores do Corinthians durante Derby Paulista que arrecadou fundos ao Partido Comunista em 1945
  • Reestruturação da CBF

Não faltam casos de escândalos de corrupção, ineficiência escancarada e incompetência da Confederação Brasileira de Futebol. A associação que é privada e a décadas praticamente pertence a Nike, sua maior patrocinadora, foi marcada por casos vergonhosos de corrupção. Além dos contratos lesivos com a Nike, ressalta-se o FIFAGATE e a própria fundação pelo magnata João Havelange.

Será uma tarefa da República Popular uma dissolução desta nefasta organização e a reconstrução de uma confederação que terá responsabilidades jurídicas e fiscais, sendo administrada publicamente e de forma transparente e tendo seus representantes e sua dirigência organizada de forma democrática-popular.

  • Reestruturação das Associações Esportivas

Qualquer fã do esporte percebe que a cada ano que passa o futebol sai das mãos dos torcedores, das massas de apoiadores e cai cada vez mais no controle de pequenos grupos de empresários.

A participação e a voz dos torcedores, que compõem a verdadeira alma que empurra o elenco ao seus triunfos e enche as arquibancadas é cada vez mais ofuscada e silenciada pelos conglomerados empresariais que dominam a máquina esportiva.

Projetos como a Democracia Corinthiana e outras iniciativas foram rapidamente perdendo sua identidade com a total "privatização" dos clubes brasileiros. As SAFs - como são chamadas, e os grandes patrocínios (Crefisa, BRB, Esportes da Sorte, Neo Química, Pixbet, Banrisul) mandam e desmandam em clubes, financiando contratações, reestruturações milionárias e angariando poder dentro das instituições esportivas para fazer o que bem quiserem - sem consultar a opinião da torcida.

O fim deste tipo de modelo futebolístico terá de contar com um retorno as associações sem fins lucrativos e uma integração de todas estas a órgãos superiores, sejam estes estaduais, municipais ou nacionais (que serão em si ser sociedades esportivas maiores, como por exemplo - a sociedade de Dynamo) organizadas de forma que a direção técnica e administrativa seja composta por profissionais apoiados pelas massas e não por magnatas e seus fantoches.

  • Fundo Público de Apoio ao Esporte

Qual país que hoje causa inveja em todos os outros nos termos de contratação?

A Arábia Saudita. Despejando bilhões em obras faraônicas e em sportswashing, o tirano Rei Saudita usa seus lucros do petróleo para contratar jogadores de alto nível e rechear os elencos dos times de craques.

Porém, devemos lembrar, como estes times conseguem tanto dinheiro? São todos propriedades estatais pertencentes a fundos públicos. E mesmo assim, competem em altos níveis internacionais. Essa é a prova cabal que o futebol não precisa estar na mão de empresas e conglomerados privados no mundo atual. Mas, se formos ao passado, veremos a Seleção Soviética, a Liga Soviética e também lembraremos de Lev Yashin.

Com a expropriação e a construção da sociedade de um novo tipo, a realocação de fundos será feita pelas entidades e sociedades máximas desportivas que irão investir em diversas áreas, para a manutenção, melhoria e construção de estádios, categorias de base, campos de treino, centros de treinamento, etc.

  • Diferenças Regionais e os Times "Artificiais"

Quando pensamos nas maiores torcidas fora do eixo - vem à mente, Bahia, Grêmio, Fortaleza e Internacional, Paysandu, o Sport, o Santa Cruz, Criciúma, Chapecoense, o Náutico, o Remo, Ceará, ABC, etc.

Vários times de regiões que estão fora do eixo econômico principal brasileiro, com grandes torcidas, não estão mais nas grandes competições, enquanto vários times na elite do futebol, sem qualquer apoio de torcida - como Cuiabá e RB Bragantino, (o primeiro sendo um time sustentado artificialmente pelo latifúndio) estão cada vez mais presentes.

O fundo de apoio e as novas sociedades desportivas deverão realocar fundos para um investimento e reestruturação dos times que representam as massas mais marginalizadas - que realmente dão suas vidas pelo desporto. Além disso, em diversas regiões, há novos "Pelés’, "Neymares" e "Ronaldos" que não foram descobertos pois nunca tiveram as oportunidades.

O Nordeste, Norte e Sul do país tem uma gigantesca força, porém, muitos dos seus habitantes acabam apoiando times do eixo, devido ao descaso e abandono que os seus times locais sofrem. Fazem 20 anos desde que um time não-sudestino foi campeão brasileiro, algo que não ocorreu na era dos “pontos corridos.” O trabalho de mitigar e reduzir as desigualdades regionais deve também ter um esforço na ala dos esportes.

  • Craques Brasileiros: À Venda

Por muitos anos, o futebol brasileiro era uma referência mundial. Conseguíamos bater de frente com os países imperialistas e destronar-os em competições intercontinentais e mundiais. Nossa seleção foi pentacampeã e era temida em todo planeta, porém, estes dias acabaram.

Agora, qualquer jogador que se destaca minimamente, aos 16 anos, já é adquirido por um clube europeu ou árabe que irá levar-o por valores absurdos "irrecusáveis." Em um esporte onde o dinheiro domina e o talento cada vez mais entra em escassez, a qualidade do futebol luta por sobrevivência.

Para que Pelé não fosse vendido, ele foi declarado como "tesouro nacional". Assim, tivemos o melhor jogador da história em campos brasileiros que nos trouxe três copas, dois mundiais e duas libertadores! A nova sociedade que deverá cortar as relações de subjugação aos impérios e ao imperialismo europeu deve fazer isto ao nível desportivo. Os craques brasileiros devem jogar no Brasil, pelo Brasil e ao lado do povo brasileiro. Cada vez mais, a ideia lesa-pátria do "sonho" de jogar no exterior é a norma, enquanto a camisa do clube e da seleção são jogadas no lixo.

Imagine, o quão poderoso seria o futebol brasileiro se mantivessemos nossas estrelas em nosso solo?

  • Racismo - A Mancha Sangrenta

Muitas declarações "anti-racistas" são feitas por diversas entidades em todo mundo quando nos deparamos com casos em todo o planeta em partidas de futebol. Porém, as punições são brandas ou inexistentes.

Quando em competições nacionais, podem expulsar para sempre um invasor de campo de frequentar partidas, mas um criminoso racista e seus apoiadores que xingam junto à ele não são banidos. A solução para acabar de vez com estes casos faz parte de uma superestrutura maior na nossa sociedade que contém séculos de opressão institucionalizada - porém, nada disso impede ações imediatas.

As punições devem começar inicialmente contra os membros que perpetuam, sejam jogadores, torcedores ou técnicos, sendo bem severas, para servirem de exemplo. Se estas se repetirem, terão ameaças e avisos finais, com punições como “portões fechados”.

Havendo reincidência, não restará opções a não ser remoção de pontos e punição direta do clube/associação que se demonstra conivente com o fato.

Para casos internacionais, o Brasil deverá ser duro e usar dos meios presentes na diplomacia para pressionar quaisquer países que ocorrerem situações assim. Não devemos abaixar a cabeça diante de nenhuma injustiça ou opressão.

  • Ao Jogador e Aos Técnicos

A ideia que todo jogador é bem sucedido e tem as mesmas oportunidades é uma farsa. A grande maioria dos jogadores atua em divisões de menor escalão, por times pequenos, em bases, times amadores ou atolados no banco de reservas.

Apenas uma pequena parcela de talentos geracionais consegue salários extremamente altos e bonificações maiores ainda. Porém, o conforto garantido aos mesmos muitas vezes é algo que não leva a resultados no campo. Os jogadores não jogam por nada a não ser sua folha, não tem amor pelo esporte ou pela torcida que o apoia.

A "Europeização" do Futebol Brasileiro, que tentou seguir os passos do distante continente, trouxe também uma maior divergência entre as táticas, modelos de treino e a realidade brasileira. Qualquer jogador ou técnico estrangeiro é reverberado como uma salvação, mesmo com dois dos três campeões no Brasil (Diniz e Dorival Júnior) serem brasileiros. A desvalorização e o cultivo de uma síndrome de vira lata veio junto a uma ideia de normalização dos esportistas como "ídolos midiáticos" e não como atletas.

Afinal, vimos a seleção marroquina com jogadores extremamente desvalorizados desbancando gigantes bilionários, além de vários jogadores antes desconhecidos participando dos elencos mais sucedidos em diversas competições. Em uma sociedade de novo tipo onde todas as necessidades dos jogadores, técnicos e suas famílias serão protegidas e garantidas, eles não precisarão de incentivos financeiros absurdos para suas performances e conquistas de troféus - e sim terão ao seu lado todo apoio, o amor pelo esporte e o reconhecimento de todo o país.

Afinal, uma mala de dinheiro não ganha uma partida.

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