Venezuela e o fracasso da “Revolução” Bolivariana

Por Thiago “Bahia” — G.E.V.P.

Thiago
3 min readDec 14, 2023

Nesta segunda-feira (11), o Presidente Nicolás Maduro recuou no seu discurso bélico e aceitou negociar com o Presidente da Guiana sobre a disputa territorial da Região de Essequibo. A militarização das fronteiras levou à tona a disputa por petróleo entre as potências imperialistas na região, além da contínua intervenção ianque e o enfraquecimento do governo supostamente ‘socialista’ (que na verdade, é inteiramente capitalista) do PSUV.

A Venezuela vem sendo utilizada como um bode expiatório pelos reacionários, que nada entendem do país, porém, para defender o capitalismo, condenar o ‘comunismo’ e qualquer um que é contra a hegemonia dos USA, citam o país diversas vezes. A ironia reside no fato que a Venezuela sempre possuiu uma economia de mercado e jamais aderiu a qualquer ideal Marxista.

Para compreender o Processo Bolivariano, deve-se lembrar que a Venezuela é um país que possui grande parte da sua economia nas mãos do setor privado e sua política nas mãos da grande burguesia. O país é rendido aos comandos do imperialismo russo e do social-imperialismo chinês, que utilizam-o como peão no conflito inter-imperialista contra os ianques. Reina o capitalismo burocrático venezuelano — capitalismo dependente, atrasado, subjugado pelo poder imperialista e carcomido pela semifeudalidade.

Não houve uma verdadeira revolução, uma quebra com o sistema vigente. O ‘Chavismo’, como surge, com discursos de ‘Socialismo do Século XXI’ e a ‘Onda Rosa’, após séculos de colonização e décadas de crises, impulsionadas por governos neoliberais corruptos e um colapso bancário, era apenas mais uma variação da social-democracia. Hugo Chávez realizou, assim como Luís Inácio, diversas políticas assistencialistas e conciliatórias, visando agradar tanto os burgueses venezuelanos quanto sua base de apoiadores.

Após uma tentativa de golpe fracassada, Chávez foi eleito em 1998, criando a ‘República Bolivariana da Venezuela’. Realizando algumas nacionalizações, porém, mantendo a presença de inúmeras empresas petroleiras que continuam extraindo produtos energéticos do solo venezuelano. Se opondo ao imperialismo ianque enquanto fortalecia laços com os imperialistas russos, Chavéz não abriu mão do capital estrangeiro.

Nomeada pelo Washington Post como a ‘Revolução Socialista Preferida de Wall Street’, o país manteve 90% de sua economia completamente dependente do petróleo. Algo que custaria caro para o povo venezuelano, com as crises e flutuações no mercado que iriam acontecer após o fim do boom das commodities. Após a morte de Chávez em 2013, a figura que o sucedeu, Nicolás Maduro, foi alvo de intensas sabotagens por sanções ianques que se aproveitaram da crise petrolífera global.

Com o crescimento de índices de mortalidade, fome e o crime organizado cada vez mais presente, o governo atravessou um período de hiperinflação, onde decisões caóticas foram tomadas para pagar as dívidas aos ‘inimigos’ ianques e encher os bolsos dos burgueses, latifundiários e militares que constituem o governo. Porém, nem um centavo foi direcionado a socorrer a própria população da miséria.

A situação deu espaço não só aos imperialistas, mas ao seus lacaios, como o autoproclamado ‘Presidente Juan Guaidó’, que apoiado por diversos ultra-reacionários no mundo, juntou forças à investida ianque no país, que estava pronta para abocanhar todo o petróleo venezuelano e criar mais um governo fantoche em Caracas em nome da ‘democracia’. No ápice da crise, até os reformistas do PCV (Partido Comunista Venezuelano), tornaram-se oposição a Maduro, que em sua aliança com reacionários locais, esmagou a resistência popular e perseguiu militantes.

As condições de extrema escassez e carência persistem, porém, após negociações ‘por baixo da mesa’ no âmbito financeiro e os recentes investimentos chineses na América Latina, a hiperinflação foi controlada. Maduro se mantém no poder, acusando qualquer opositor de ser um fantoche ianque, enquanto assina acordos bilionários de exportação de petróleo com a multinacional Chevron.

A situação na Venezuela demonstra a intensa decadência do reformismo. É de extrema importância denunciar as medidas anti-povo e a farsa do ‘“socialismo’” chavista. As massas não darão ouvidos ao velho discurso anticomunista dos charlatões reacionários, nem as falas dos oportunistas em apoio ao revisionismo. Torna-se claro que apenas uma revolução que destrua as estruturas imperialistas e burguesas-latifundiárias trará o fim da dependência semicolonial e a miséria capitalista.

--

--